Da Agência Reuters
Depois da abstenção mais alta no primeiro turno desde 1998, o tema virou assunto central na campanha do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que traça estratégias para que um número ainda mais alto de eleitores não deixe de votar na segunda etapa da eleição, o que pode prejudicar Lula diretamente.
Na campanha, dois pontos preocupam mais. O primeiro deles é que a abstenção no primeiro turno chegou a 20,95%, o que representa 32,8 milhões de eleitores. Tradicionalmente, é na classe de menor renda e escolaridade que a abstenção é maior, fatia que mais dá vantagem a Lula. Falta de transporte, distância para os locais de votação, obrigação de trabalhar no dia da eleição, falta de informação são alguns dos fatores que afetam esse eleitor.
Dentro do QG lulista, a preocupação com a abstenção já surgiu no primeiro turno, e Lula passou os últimos dias de campanha pedindo às pessoas que fossem votar, mas o resultado foi ainda pior que em 2018.
Este ano, três Estados considerados chave para Lula garantir a vitória tiveram abstenção mais alta do que a média Nacional. No Rio de Janeiro, 22,74% dos eleitores não foram votar. Em Minas Gerais, 22,28%, e em São Paulo, 21,61%. Lula venceu em Minas por uma margem menor do que o esperado, e perdeu em São Paulo e No Rio, por margens maiores do que se previa, e a campanha acredita que é preciso trabalhar parte da abstenção para melhorar esses índices.
“A abstenção é uma tarefa que temos de ter atenção nesse segundo turno”, disse o senador Jaques Wagner (PT-BA) em um encontro de Lula com senadores e governadores que apoiam o ex-presidente na última quarta-feira.
Wagner foi quem levantou outro ponto em que a campanha petista coloca atenção: os Estados em que não há segundo turno, caso de locais centrais para Lula como Rio de Janeiro e Minas Gerais. Sem a campanha local para animar os eleitores, a tendência é a eleição atrair menos a atenção dos eleitores e aumentar a abstenção.
“É um desafio grande a gente ir para uma eleição só de presidente nesses Estados onde não há eleição para governador”, avaliou Wagner.
A questão da abstenção foi um dos ponto centrais levantados por senadores e governadores no encontro com Lula. O ex-presidente se comprometeu a ir a todos os Estados onde os aliados disputam o segundo turno, mas também onde não há eleição local, mas seja necessário um investimento maior.
Ex-governador do Maranhão e senador eleito, Flávio Dino (PSB), propôs que o partido fizesse uma consulta ao Tribunal Superior Eleitoral TSE) sobre a questão do transporte gratuito no dia da eleição. No primeiro turno, uma ação judicial impetrada pela Rede no Supremo Tribunal Federal garantiu que as prefeituras não diminuíssem a quantidade de ônibus disponíveis no dia da eleição e, aquelas que tinham por política oferecer passe livre, mantivessem a medida.
Isso porque a prefeitura de Porto Alegre, alegando questão de custos, havia suspendido o passe livre, tradicional em todas as eleições.
Dino, no entanto, aponta uma outra preocupação, que afeta especialmente o interior: a falta de transporte rural.
“Nas zonas urbanas a solução jurídica já encontrada, que é a gratuidade dos ônibus. O problema são as zonas rurais. Às vezes os juízes são muito reticentes em autorizar que o transporte seja feito. O que eu defendo é que a campanha vá ao TSE e peça que emita uma norma dizendo que se as prefeituras têm ônibus escolar está autorizada a colocar esses ônibus a rodar no dia da eleição nas mesmas rotas sem restrição de acesso”, explicou.
No primeiro turno, o resultado final, com uma diferença entre Lula e o presidente Jair Bolsonaro de pouco mais de 5 pontos percentuais, foi inferior ao medido pelas principais pesquisas de intenção de voto.
A análise feita pela campanha aponta duas possíveis causas: uma migração de última hora de votos dos candidatos Ciro Gomes (PDT) e Simone Tebet (MDB) para Bolsonaro, em uma tentativa de evitar que Lula vencesse no primeiro turno e a dificuldade dos institutos de considerar a abstenção.
“No dia deu-se uma abstenção de 20,95% que essa pesquisa e nenhuma outra conseguiria medir. Lula perdeu 9 pontos e os candidatos não competitivos outros 9 pontos. Lula, por conta da vulnerabilidade –custo de votar– do seu eleitorado mais pobre”, argumentou o cientista político Antonio Lavareda, hoje ligado ao Ipespe, sobre o fato de Lula ter tido um resultado pior do que o previsto em alguns Estados nas principais pesquisas de intenção de votos.